textos ao léu.

antes o que escrevia tinha um endereço

era voltado a alguém

houve a ruptura

houve o drástico choque

mas o hábito de escrever ficou

o despencar de letras, palavras, frases

isto permaneceu

mas agora, os textos saem ao léu

eles são jogados de qualquer maneira

não existe mais um endereçado

é de qualquer um que quiser ler

da forma que quiser entendê-los

da maneira que melhor servir

a quem perder seu tempo em

degustá-los

os textos saem sem eira nem beira

seguindo exatamente

o estado de quem está a escrever

tantas palavras

tantos pensamentos

tantas bobagens frígidas

tantos lamentos

meus lamentos serviram a quem?

mas ainda assim, escrevo

agora sem destinatário

sem preocupação com algo mais

visto que rompi de vez

com a expectativa

acabou-se a espera

esperar o que? de quem?

esperar alguém?

é muito triste esperar

algo que não vai chegar

e ficar ao léu

ficar a ver qualquer chapéu

num tempo em que nem chapéus

se usam mais

o que na verdade

já mostra que não se viu absolutamente

nada

e neste tempo ausente de expectativas

sem o sabor dos tão esperados

e desejados encontros

tempos de esperas vãs

acabo por nada de concreto

ter em minha mente

mente oca, ausente

e com a mente vazia, se amplifica o próprio

vazio das coisas

das circunstâncias

do eu

neste caso a mim

restou-me somente as palavras

de físico, de concreto

pois, acho que estas nunca me abandonarão

e se realmente assim o for

de hoje em diante

estas sairão da forma que puder

da maneira caótica que eu conseguir

colocá-las, jogá-las ao ar

quiçá aos ventos, ao céu

ainda que saiam aparentemente

livres e sem destino

saem desfiando fio a fio

deste trama que se faz eu

que em palavras me desmancha

a cada letra, de fio a pavio

saem sem se preocupar mais

aonde me levarão

sabem que é em vão

buscar lugar algum

então conduzem-se

estas palavras que saem

em lágrimas de dentro de mim

sem paradeiro, seguem ao léu

fazendo qualquer, o destino meu.

paulo jo santo

30/03/2011 - 05h20

Paulo Jo Santo
Enviado por Paulo Jo Santo em 30/03/2011
Reeditado em 30/03/2011
Código do texto: T2878864
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