gotículas.

minhas lágrimas, me traduzem

ainda que não tenha mais força para vertê-las

ainda que não tenha mais nada para expelir

as gotículas insistem em cair

seja em pensamento

seja por dentro de mim

seja de que forma for

acho que as lágrimas afugentam os outros

o tempo de ser solidário

começo a pensar que já passou de muito

e resta ficar sozinho

e resta ficar recolhido em seu canto

em seu caos interior

em seu sufrágio

em sua luta de querer se libertar

mas há momentos que precisamos de outras mãos

há momentos que precisamos de mãos específicas

que estas se estendam por um único segundo

e ainda que não queiram permanecer

num ato de misericórdia se estendam

naquele segundo crucial

e o segundo se vai

e a alma fica vazia

de um nihil tão profundo

de um vácuo tão intenso

que nem o choro mais dolorido

é capaz de traduzir a dor da alma

a desolação interna

que acaba por restar

e as gotículas, tão singelas

tão internas

tão íntimas, nada poderão fazer

neste momento

senão cair, na tentativa da única carícia

na pele, na alma

que está a se esvaziar.

paulo jo santo

29/03/2011 - 23h30

Paulo Jo Santo
Enviado por Paulo Jo Santo em 29/03/2011
Reeditado em 29/03/2011
Código do texto: T2878580
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