gotículas.
minhas lágrimas, me traduzem
ainda que não tenha mais força para vertê-las
ainda que não tenha mais nada para expelir
as gotículas insistem em cair
seja em pensamento
seja por dentro de mim
seja de que forma for
acho que as lágrimas afugentam os outros
o tempo de ser solidário
começo a pensar que já passou de muito
e resta ficar sozinho
e resta ficar recolhido em seu canto
em seu caos interior
em seu sufrágio
em sua luta de querer se libertar
mas há momentos que precisamos de outras mãos
há momentos que precisamos de mãos específicas
que estas se estendam por um único segundo
e ainda que não queiram permanecer
num ato de misericórdia se estendam
naquele segundo crucial
e o segundo se vai
e a alma fica vazia
de um nihil tão profundo
de um vácuo tão intenso
que nem o choro mais dolorido
é capaz de traduzir a dor da alma
a desolação interna
que acaba por restar
e as gotículas, tão singelas
tão internas
tão íntimas, nada poderão fazer
neste momento
senão cair, na tentativa da única carícia
na pele, na alma
que está a se esvaziar.
paulo jo santo
29/03/2011 - 23h30