TEATRO EM RUÍNAS

No silêncio nocturno das coisas

paradas, o paradigma das sombras

salta das paredes para o chão,

desce de degrau

em degrau, e sobe nas cortinas

fechadas na noite,

como um acto teatral entrecortado.

Por uma janela entreaberta deixa-se

entrar a luz da lua, prenhe de brancos

e de cinzas, o qual ao longe permite

ouvir o uivar dos cães,

dementes pela alvura das estrelas,

com crianças

agitadas na loucura da macia infância.

O Teatro está em ruínas e há muito

é pouso de prostitutas e outros vícios,

que por ali deambulam seu revés,

alimentados de lixo

humano, cantando para esquecer o

seu fado, mais triste

que este rio, que poluído, defeca gases.

Tudo é escombros e lembranças de

ter-se tido ali alguma coisa, alguma

vez, com multidões aplaudindo de

pé, pedindo por mais;

mas uma janela desfalece de pobre

e cai na rua em estilhaços,

trazendo à realidade o nado-morto.

Jorge Humberto

10/03/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 10/03/2011
Código do texto: T2839336
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