Viciada

 

Não bebo.
Não fumo.
Não me drogo.
Mas, cultuo outros vícios.

Engulo a saudade a toque de fumaça,
que me sai queimando pelos poros
e grito em desespero às picadas de fel
que se querem mel e perfuram meu corpo.

Perambulo parca pelos pântanos podres
enluarados de embriaguez acéfala
e dispo-me no paraíso do desejo
para ser execrada aos rebanhos falsos.

Sou fogo-fátuo que rodopia dantesco
e belo some apressado e sem destino,
deixando no ar um sabor de morte
arrepiado em prazer – com dor.

Danço, danço na fogueira de mim mesma,
sou sacrifício e deusa ao mesmo tempo.
Faisco da ponta dos pés ao cérebro rebelde,
que silencia ao som do natimorto sonho.

Avermelham-se os olhos verdejantes
e os cabelos negros sem idoneidade
transformam-se em floresta devassada,
que, alheia ao crepitar demoníaco, delira.

Balouço meu corpo enlanguescido
em ritmar obsceno que provoca Hades
à caça soturna e, sem lei, soluço o enigma
amordaçado nas línguas dos deuses.

Exaro uivos fumegantes por rejeitar
as circunstâncias malignas do fado eterno.
- Se não fui má, nem sou – por quê eu?
E cintilo e escureço, concomitantemente.

Não bebo.
Não fumo.
Não me drogo.
Mas, cultuo outros vícios.


Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 2011 – 18h53
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 16/02/2011
Reeditado em 27/11/2019
Código do texto: T2796274
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