FLOR QUEIMADA II

Hoje, estou deveras contente.

Em verdade, nada mudou.

Este estar assim, de repente,

é porque o verso, no verso rimou.

A poesia, é por isso, inconstante.

Não que falsei, no quanto escreve,

mas porque ainda vem distante,

o que ela, a quem versa, bem deve.

Passa um navio: vai de viagem,

para uma qualquer ilha, a se perder.

Quando petiz, gostava de canoagem,

como estou feliz, importa o dever.

Não; não quero vinho! Para festejar!

Que a minha boca é seca, ao pecado.

Ao néctar, dos deuses, irei pois olvidar,

agradecendo, que sou bem-educado.

A tarde está fria; cai pungente, no rio.

Um pouco mais longe, nutrido nevoeiro,

às aldeias esquecidas, e atadas com lio,

gretam os lábios das pessoas, com cieiro.

Então uma leve tristeza, se assoma de mim:

eu que estava tão contente, e assas feliz.

Estou infausto nesta hora; e eu, porque vim?

Choram sentidas as flores, do meu jardim.

Tudo tem sua Razão de ser; vi na televisão!

Criança subnutrida, em flor queimada mexia.

Era seu único jogo: nas mãos deu-se a explosão,

e, o menino, tripas no chão, sua voz gemia.

Jaz e arrefece o menino, por todos abandonado.

Tudo por obra destas guerras, que não cessam,

e deixam, ao acaso, engenhos, não cuidados,

por obra e mão de peritos, que não se revezam.

Como posso continuar contente?

Como? Como?... Quem mo dirá?

Se há coisa que não sou é aparente –

muito menos, o verso se subverterá!

Jorge Humberto

15/01/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 15/01/2011
Código do texto: T2730948
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