Flor Fúnebre

As flores plásticas que não morrem.

As artificialidades da vida,

Territórios simulados, não me toquem,

Totens de autor homicida.

Imagens de uma natureza morta,

Ignorância apreciada com afinco,

Dor vivida como lembrança torta,

De senilidade precoce de um mito.

Horror que me causa e transmito,

Hospedando-me em cárcere imagético,

Sombras reproduzidas no vazio,

Penumbra de desvalorização do apologético.

Ataque a meu otimismo infantil,

Abrindo um hiato que engole-me por inteiro,

Iludindo como plumas de um pavão no cio,

Imolando esperanças no altar do desespero.

Açoitando minha resistência em persistir,

Amarrado em laços de um murmúrio mudo,

Molestando meu fastidioso existir,

Mendigando qualquer alucinação do absurdo.

Enforcado em vísceras de um cadáver adiado,

Eu não nego a perspectiva de Pessoa,

Nauseabundo com a putrefação do inato,

Niilismo que na existência é masmorra.

Grito e os ecos se reproduzem,

Gemidos alucinantes que aterrorizam,

Solidão que os sóbrios elegem,

Solstícios lúgubres à morte anunciam.

Fervorosa volúpia dançando tango,

Fetiche de um ritmo fúnebre,

Embalando os passos de tormento,

Enamorada lascívia de motivos fúteis.

Ventos de auspícios etéreos,

Vergastada de hábitos vulgares,

Brumas de serpes com patíbulos eternos,

Braços da morte que não admitem pesares.

Albergue do drama contínuo,

Átrio de corrupção que entorpece,

Velhas edificações do infortúnio,

Víboras corroendo meus alicerces.

Chronos, clamo a Zeus para desgraçá-lo,

Conclamo Hades para soerguer-me em meio às trevas,

Androceus pútridos aos pés de Vênus, esmagados,

As flores mortas? Reservo à Persephone, as malfadadas pétalas.