Esperança
Espera, esperança
Que venham desgraças, embora desejamos bonança
Já se foram as lembranças
Agora aguardamos o futuro, feito criança.
Passado que não é mais
Presente que penso ser
Futuro que advém e me apraz
Esperança que acalenta o viver.
Amarga espera que me toca
O futuro eu quero, o presente me choca
A dor de não ter que me sufoca
Aprisionado neste vir-a-ser que me sufoca.
Doce ilusão que me faz sonhar acordado
Amarga verdade que se manifesta quando o porvir deixa de sê-lo
Torpe realidade que me torna um ser dilacerado
Futuro vindouro que se faz presente em minha mente, não posso detê-lo.
Ser um vir-a-ser, eis minha razão de ser.
Ser um vir-a-ser, o mesmo que não-ser.
Ser um não-ser me torna um ser.
Ser um Ser.
Tenham consciência do que é esta falta de consciência
Abram os olhos e enxerguem a farsa
Sejam ludibriados mais não percam a prudência
Pois Nietzsche já alertou, Pandora é nefasta.
O olhar é no futuro, mais os pés estão no presente
A memória no passado e a mente é consciente
Os sonhos são ilusórios e há os psicanalistas com o seu inconsciente
Entretanto a esperança só se alimenta do que é ausente.
A realidade da esperança é nunca ser
Pois quando se torna realidade tende a desaparecer
Pode até mesmo servir como parâmetro ao homem que deseja crer
Mais quando lembrares da caixa de Pandora, lembre-se: esse “mal” foi o único que não conseguimos nos desfazer.