INSÔNIA
Nem uma gota de sono,
nem um só aceno
em meu abandono,
apenas o veneno:
única taça ao derredor;
e os espinhos,
de ponta virada para cima,
que insistem em nascer nos caminhos,
trazendo a dor,
que não existe analgésico que suprima.
Nenhum som na madrugada,
a não ser um som impreciso e obscuro:
talvez, um torneira a pingar esquecida;
quem sabe, de um tiro, o estouro?
No mais, tudo imóvel e silente,
a não ser dentro da mente,
onde idéias e pensamentos,
na contra-mão da minha insônia, deliram,
totalmente ensandecidos.
Fugiram os sons,
rarefez-se o ar,
eclipsou-se a lua,
ocultaram-se as estrelas.
Até o bêbado,
que ainda há pouco xingava, emudeceu!
Tudo tão triste,
a parecer quarta-feira de cinzas,
quando as ilusões se mostram nuas,
nada mais a lembrar
a promessa de alegria,
iniciada no sábado,
mas, que a cidade, indiferente, já esqueceu,
que não seguiu adiante.
Enquanto isso, a vida,
de dedo em riste,
nos cutuca a ferida,
ainda latejante.
- por JL Semeador -