O Que pode matar o Poeta?

O estar no mundo

Pode matar o poeta?

Ter consciência disso

Pode?

A não compreensão

Do seu ser

Pelos seus irmãos

Pode matar o poeta?

Os desamores que

O poeta amou

Com tanta voracidade

Com as extremidades

Máximas da Esperança,

Esperança

De que um Dia

Tudo se ajeitasse...?

Mas tudo é tanto

Será que o Tanto

Não cabe no coração

Do poeta?

O que pode matar o poeta?

Os amores desamados?

Com a intensidade

De um Relâmpago,

E a fúria de um Vulcão,

E os abismos

Mais que abissais

Dos Mais profundos?

Esses amores

Frios

Resistentes às profundezas

Dos Oceanos

Que ninguém soube

E

Nem nunca

Ninguém saberá

Com que brutalidade

E ferocidade

Esses amores

Assim,

Apenas assim

(existidos?)

Feriram com armas

Antigas

E novas

Com armas

Que ainda vão inventar,

Com palavras

Arcaicas

De idiomas

Esquecidos

E vivos

Com palavras

De gírias de jovens velhos

E dos que ainda estão por vim,

Com palavras

Que ainda vão se transformar

Noutras mais expressivas

Se transformar

Com a renovação

Desta sociedade morta

Noutra vindoura,

Mas também morta,

No entanto, também armada

Mais letalmente

Com a intenção

De calar o poeta

De amarrar o poeta

De torturar o poeta

De derramar o sangue poeta,

De matar o poeta...

Com essas armas ferido

Pode o poeta morrer?

O que pode matar o poeta?

Seus amigos materiais?

Seus amigos transcendentais?

Estes muitos mais,

Mais muito mais

Violentos e cruéis

Que aqueles...

Pode o poeta morrer disso?

O poeta tem forças

Para suportar

O peso da Maldade?

A leveza da bondade?

A aridez do dialogo?

A escassez da gentileza?

Os segredos dos mil cadeados?

A dureza das portas cerradas?

Enfim,

Mas não em fim...

A raridade do Amor?

Do amor dos irmãos sociais?

O poeta tem forças suficientes

Para não chorar?

Essa avalanche de lagrimas

Caudalosas,

Lavas sangrentas

Caindo pelo esquerdo canto

Do seu olho direito

Pode fazer o poeta sucumbir?

Que pode matar o poeta?

O contrato social inexistente

Assinalando a Confiança

Que sua sociedade exige

Somos sócios?

Somos sócios irmãos?

Porque queres me matar?

Porque despertais em mim

O desejo de morte

Mais forte

Do que o desejo

De transitar entre vós?

O que pode matar o poeta?

A falta de voz

Ou o excesso de

Canto de pássaros

Aroma de folhas

Húmus de terras

Cachoeiras e pedras

Silencio de ruas

Solidão de cemitérios

Adeuses

Nunca ditos

De seres como nós

Que de repente partiram

Seres com quem o poeta

Fundia seu pensar?

Seres imaginários

Seu sonhar?

O pode matar o poeta?

O vazio do mundo

Ou a extrema cheia

Que continuamente

Mais e mais,

Torne pequeno,

Apenas o seu coração

Mas todas as suas existências.

O que pode matar o poeta?

A Poesia pode Matar o Poeta?

Pelas mãos de:

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 28/05/2010
Reeditado em 28/05/2010
Código do texto: T2285624
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