Pinturas Sinfônicas Emancipadas
Que tempo é esse?
É o tempo das grandes aflições
É o tempo em que não há lugar
Para guardar tantos cansaços
Tantas lágrimas secas, e olhos vermelhos,
O sol se pondo,
Longe...
Você não conhece esse tempo
Este aqui
Este tempo de músculos retesados
De olhar cansado
De fracas decisões
De resoluções desistidas
De amores inventados
De cantos não ouvidos
Nem vistos,
Nem sentidos...
Esse é o tempo das belas dores
E das felicidades mais doídas,
Loucas
E as sombras se encolhendo
É o tempo do esquartejado
Da fuga do sangue das veias
Da falta de vontades
De rir
De chorar
De chegar
De se partir
É um tempo de grandes sinfonias esquecidas
Silenciosas
Silenciadas
Sinfonias sólidas solitárias
Que tempo é esse?
É o tempo dos acumulados
É o tempo dos transpassados
É o tempo do passado
O tempo é só passado
E ninguém consegue adentrar
No tempo inexistido
Que a gente inventa
Para poder também ser inventado
Esse é o tempo feliz apenas dos inventados
E quem inventa
Inventa calado dentro e
Na agonia, e apenas nela
É que bate mais de um bilhão de corações
Que dão vida aos seres inventados...
E tanto tempo inventando
Eis que o pensamento se libertou
E pode ser que tenha deixado a matriz
E nesse tempo em si mesmo enrolado, camuflado
Eis que o pensamento nunca mais encontrou,
A matriz onde foi criado,
Tampouco se localizou a si,
O ser apenas pensamento...
Tudo tem vida,
Vida amigos,
Amigos apagados...
E tem gente por ai
Achando que existe de verdade
E outro que dorme inerte não pode se levantar
Pois que seu pensamento se perdeu
Entre aqueles tantos muitos que por si e ele foram criados
Pintados
E vai que é num desses que pintamos
Para agüentar o tempo
A gente já sem forças
Nem sabemos, mas nem existimos mais
Mas o pensamento fica
E o que é barro vai
Fica o pensamento
Nesse tempo
E no tempo do por vir
Para sempre assim em pinturas e letras eternizado...
Belas dores
Felicidades mais doídas, Loucas!
Que tempo é esse?
Esse é todos os tempos
Seres inacabados.