O Destino do Guerreiro Negro

O Destino do Guerreiro Negro

Embalados pelas ondas, viemos pelos mares. Acorrentado,

Eu via meu povo morrendo de fome e sede ao meu lado;

Corpos eram atirados na imensidão das águas e

nossa dignidade era sumariamente destruída.

Descemos num novo mundo, com árvores verdejantes e animais estranhos.

Andamos em fila, nossos pés queimavam;

Tínhamos tanto medo!

Os homens que nos aprisionaram riam e cuspiam na nossa cara

“Seja forte, filho” – dizia o velho ao meu lado;

“A honra está no perdão” – e eu sentia a força nas suas palavras,

Mas não encontrava eco em meu coração.

Fomos colocados em casebres escuros e nocivos.

Bebemos água amarga e comemos comida ruim.

Meu povo parecia conformado com aquele destino.

Mas eu não!

Eu era um guerreiro e sabia que o verdadeiro orgulho estava na luta!

Não suportei aquela situação e fugi.

Quebrei os grilhões que me prendiam e fugi.

Livre, eu matei as mulheres e crianças deles.

Escolhendo minhas vítimas perversamente,

eu lhes devolvi o mal.

Devorei a paz de cada um deles com meu ódio

Nenhuma lágrima derramei, mas nunca deixei de chorar por dentro.

Minhas lágrimas eram por eles. Lágrimas que nunca secarão.

Furiosos e amedrontados, eles me caçaram.

Cada vez mais eu me embrenhava na sombra que acoberta a floresta estranha e misteriosa.

Quando senti a sede de sangue deles perto de mim,

e a morte perversamente requerendo minha juventude, eu vi a Luz.

Um raio de luar iluminando meu caminho.

A Luz clara, brilhando na minha frente como um caminho secreto.

Eu caí de joelhos e contemplei:

— Deuses, que luz linda!

Eu tinha lágrimas nos olhos e temor e fascínio no coração.

A Luz cegou meus caçadores e pude matá-los.

Degolei o pescoço deles e me embebedei com o sangue vermelho.

Uma vítima bêbeda com o sangue de seus assassinos!

A pureza corrompida pelo ódio!

Entao a Luz guiou-me, as vozes sinfônicas da Natureza

murmuravam-me para onde ir.

Elas queriam levar-me de volta para minha terra, para minha fortaleza.

Mas, dura sina a minha, eu chorei. Despido de vergonha, eu chorei:

Uma grandiosa massa oceânica me separava da minha terra,

meu mundo, meu povo... tão distantes.

Desesperado, eu orei aos Deuses, pedindo proteção e força,

e mergulhei naquela água, disposto a atravessá-la para beijar minha terra morna.

Sonhava abraçar meu povo e reverenciar os espíritos sagrados,

mas a água cruel era abundante; eu me cansei.

Toda minha coragem e força de guerreiro-leopardo estavam esgotadas;

eu não podia continuar nem voltar.

Então senti a mão dos espíritos puxando para baixo.

Hoje repouso no leito macio do oceano de tão belo e claro veludo azul.

Vejo o brilho do sol e sinto as vibrações de minha terra distante.

Mas estou abandonado, órfão, devorado pela saudade.

Meu mundo não é mais minha terra.

(escrito em 2003)

Fausto
Enviado por Fausto em 17/02/2010
Código do texto: T2092132
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