(original in English after the Portuguese translation)
 

O texto abaixo foi escrito na madrugada do dia 18 de março de 2003, quando meu filho Joe, das Forças de Operações Especiais dos EUA, partiu para o Iraque - três dias antes da guerra ser declarada. Ele me telefonou dizendo: "Mom, estou indo trabalhar, ok? Por favor não se preocupe." Era nosso código - "ir trabalhar" significava "partir para a guerra".
 
Pelos próximos quatro anos, esperei pelo retorno de meu menino e de seu irmão Dave, que também partiu para o Iraque dois anos depois. Ambos retornaram em 2007 - fisica e emocionalmente feridos, mas retornaram. Hoje estão aposentados da ativa, e, aparentemente, não preciso mais me preocupar com guerras.
 
A verdade é que, em muitos lugares do mundo, nós, mães, estamos vivendo agora mesmo tudo o que vivi naqueles dias.
 
Afinal, não é preciso que haja conflito entre nações para que haja guerra. Hoje em dia, quando nossos filhos cruzam a porta, estão penetrando um terreno de guerra. 
 
Seja devido à ganância ou ao fanatismo religioso de alguns poucos, nós, mães, estamos todas envoltas no medo. Medo de assaltos, roubos, raptos, terrorismo, em uma guerra urbana que parece não ter fim. E nossas noites se alongam, enquanto esperamos, acordadas, pelo retorno de nossos filhos.
 
Não, não estou sozinha nesse espanto frente à loucura do homem. E é para todas essas outras mães que ofereço minhas orações e meu carinho.
 
 
 

 


18 de Março
(do livro A Hora da Espada, 2003, selo REBRA)

 
 
Que caiam as pétalas de todas as flores
e cale-se o canto de todos os pássaros!
Hoje a beleza não tem razão de ser.
Que as crianças falem em sussurros
sem risos e sem cantigas
e os amantes baixem os olhos
para que se não lhes transpareça o brilho.
Hoje o amor não tem razão de ser.
Que a mãe que acalanta seu filho
agarre-se desesperadamente ao momento
porque talvez seja ele tudo o que há
depois da dor do parto.
Hoje
nos céus inutilmente azuis
pássaros negros levantaram voo
levando meu filho

à Guerra.



ENGLISH VERSION

The following poem was written on the dawn of March 18, 2003, when my son Joe, of the Special Operation Forces, went to Iraq - three days before the war was declared.
 
Through the next four years I waited for the return of not only Joe, but also my other son, Dave, who also went to Iraq two years later. They both returned in 2007 - physically and emotionally hurt, but they returned. Today they´re retired and I don´t have to worry about war anymore. Apparently.
 
The truth is that because of men´s greed or religious fanaticisms, we mothers are living right now, in several places around the world, the same things I went through on those days. After all, we don´t need a conflict among nations to have a war. Nowadays, when our children cross our doors they´re entering a warfield.
 
We mothers are all surrounded by fear. Fear of terrorism, robbery, kidnapping, murder, in an urban war that seems endless. And our nights are long as we sleeplessly wait for our children´s return.
 
No, I´m not alone on this amazement before men´s foly. And it´s for all those other mothers like me that I offer my prayers and my love.


March 18
(from the book A Time for the Sword)





Let the petals fall from all flowers
and let the birds stop their songs!
Today beauty has no meaning.
Let the children speak in whispers
with no laughter nor play
and let the lovers lower their gaze
lest they show their glow.
Today love has no meaning.
Let the mother carrying a child
desperately hold on to the moment
for that may be all there is
after the birth pains.
Today
black birds took off to skies
uselessly blue.
They've carried my son
to War.






 
 
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 30/08/2009
Reeditado em 02/10/2022
Código do texto: T1783447
Classificação de conteúdo: seguro
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