O Ritmo Das Coisas
Os caminhos que sigo
Não sou que os traço
Vou mesmo sem vontade
Nunca me faço
Sempre me desfaço
Fico por aonde vou
E onde chego nunca sou
Sempre fui
Seja qual seja a terra que meu pé pisou
Os meus sonhos
São aves me espionando
Espreitam minha queda
Querem meu corpo dilacerando
Mas eu não sou o meu corpo
Nem meu pensamento sempre outro
Não tenho uma alegria
Se o azul me aparece
De repente se faz nuvens negras
E cobrem a luz do dia
As vezes eu penso
Alem delas, no sol
E queria mesmo habitá-lo
E sublimar a roupa que me cobre
Afim de que pudesse encontrar minha face
Que nunca se mostra
Nem ao espelho me reconheço
Não aceito os sinais do meu rosto
E cada vez que vou ao banheiro
Vejo um estranho me espionando
Questionando-me em silêncio
Como se eu tivesse que saber
O que não sei o quê
As vezes eu saio de casa
Vou ao supermercado do seu Quincas
E compro uns cigarros
Um café, um açúcar
Volto para casa
E tento fazer alguma coisa,
Todavia, a mais bela idéia
Ato continuo se enche de tédio
Olho então para o facão
E ele me abre um caminho
Que ainda sou covarde de mais
Para aceitar.
Ele conversa comigo
Diz ser meu amigo
Penso então em sair um pouco
Mas lá fora as ruas são velhas minhas conhecidas
Passeios noturnos são comuns para um homem como eu
E cada rua já me contou sua estória
Sabe, sinto que a qualquer momento isso tudo tem que acabar.
De toda forma
Deixo aqui meu agradecimento
A quem que seja
Que eu conheça ou não
Na verdade isso não tem a menor importância.