Tarde vazia
Enquanto, os coveiros
Realizavam seu funesto ofício
Eu, ali parada
Observava cada movimento
Cada instante
Engraçado
O mundo lá fora daqueles portões
Não parou
Nada parou
Apenas ali no pequeno grupo
Havia a paralização total
Aturdida, revelada em cada olhar
Vazia tarde
Incrivelmente vazia
Carros passando, músicas
Vendedores ambulantes
Constatei o que há muito já sabia
Existe muita gente neste mundo
Que diferença faz mais um baixar á sepultura
Ao fim derradeiro
Ao destinal principal ao qual todos estamos fadados
Aqui estou escrevendo
Enquanto chuva cai
Leva os resquícios da vida que se foi
Soldados fardados em frente ao quartel
Nada sabem do homem
Da reserva
Nada de tiros, nada de soldados
Foi-se ele levando
Dias de luta
Dias de uma vida
E agora faz parte da infinita corporação
Dos além túmulo
Sabe a poetisa o homem que foi
Um dia, ele soube da mãe
Que iria dar á luz, mas o bebê não queria
Então o soldado arranjou-lhe um lar
Seu gesto de soldado que importou-se
Muita, muita diferença fez
Eternamente lhe será agradecida a poetisa
Pois tu homem que partiu
Não apenas passou
Enxergaste o sentido do combate
O de viver plenamente
De não ser ausente
O de importar-se verdadeiramente
Mas, pouco muito pouco
Tudo que busco definir
Sua vida muito mais foi
Do que minha fracassada tentativa
Em poetizar o vácuo, o vazio que deixaste!