Resquícios

Resquícios, do sol lá fora

Resquícios, de viver, corroem, a alma da poetisa

Resquícios, de nada, do que deveria ter sido

Pouco, bem pouco, resta

Apenas fragmentos, quando agrupados estão

Pertubam, com uma tristeza fria

Já, não risos, apenas ecos

Ecos, infundados, tempos passados

A casa de madeira

Agora silência, inexiste

Apenas, em suas paredes, reside

Fatos, auto-retratos, amarelados

Nos labirintos obscuros

Resquícios, de algo, ou quase algo finda

Esvai-se, a vida, vida colorida, das bolhas de sabão

Do alegre, ser criança, até, até o dia fatal

Um carro!

Uma estrada!

Um perder a direção!

E tudo, tudo, entrou, em contradição

Foram-se os sonhos, as risadas, foi-se a criança

Cêdo demais, viu a morte, ali, no chão

Nos olhos de seu irmão

Criança deixou de ser

Em seus oito anos, apenas, o que veio antes, ficou...

Depois, depois, vagou apenas

Levou tudo, sem, muito compromisso

Achou por demais, continuar

Pesado existir

Inexplicavelmente, desmedido

Surpresas não mais!

Rodopios não mais!

Sobraram, apenas resquícios

Resquícios, da menina, que cêdo, cêdo demais

Penetrou, no mundo dos ais, lamentos

Mas, que diabos, onde esta o cara

Que a tudo controla?

Acaso, esqueceu-se, de mim

Deixou-me, assim, vivendo, tola existência

Mas, que raio, de penitência, esta que devo cumprir?

Desejando, almejando, despreender-me

Nada, mais sou, do que um resquício

Porque, tudo de bom, de vivo, de intenso

Perdeu-se naquela curva, naquela estrada empoeirada

E lá ao longe, veio o velho negro

Enxada na mão

Cobrir, cobrir o sangue

A poça, e a menina

Ali sendo segura, por não sei quem

Fixa, olhava nos olhos de seu irmão

Que lhe estendia a mão

Suplicando que a segurasse

Mas, não pode a menina

Levada daquele lugar

Para, nunca mais, nunca

Mirar novamente

O olhar do irmão, agora ausente!

Resquícios do dia, permanecem, invadem

Amontoan-se

Entulhos!

Precisa a poetisa, exorcizar-se de si mesma

Com toda certeza

Mas enquanto seu despreendimento não chega

Resquício foi, é e será!