Reforma
O meu coração não fala mais comigo.
Estive pensando, tentando me organizar.
Estive tentando, me reanimando,
Me erguendo a cabeça a todo momento,
Me forçando um sorriso,
Me sentindo feliz, me sentindo triste.
Eu vivo tentando, vivo me reanimando,
Me tirando das águas do mar,
Carregando comigo o meu sonho, o meu erro.
Carregando comigo o meu coração que já não fala mais.
Vazio. Pesado.
Eu sou um corpo. E uma montanha de pensamentos.
Uma trilha de lembranças.
Uma terra perdida.
O labirinto do Minotauro.
Eu estive tentando me organizar
Para por pra fora, calmamente,
Pensadamente, uma a uma,
As mágoas que carreguei.
Não obtive sucesso,
Pois nem mais sei das mágoas que inventei,
Das mágoas que engoli;
Das lágrimas que não chorei.
Já não sei mais quais foram as que senti,
Quais foram as que ganhei.
Só sei que não chorei.
Só sei que me podei.
Me esqueci de mim pensando de mais em outros.
Vou me encontrar.
Eu posso esquecer meu corpo,
Posso esquecer meu rosto,
Meus pensamentos...
Mas me recuso a pensar em esquecer meu coração,
Que não fala mais comigo...
Este, que me bate cá dentro do peito,
Que me machuca a marteladas,
Que carrego por desrespeito,
Que nega uma comunicação.
Meu coração se esqueceu que está dentro de mim,
Vive por si só, a bater, acelerar e desacelerar.
Quem sabe no meu molde não me veio ser cardíaca?
Me dói ter que sorrir sofrendo.
Me frusta ter que sofrer sem entender.
Me chateia essa desorganização que deixei criar no meu quarto.
As leis da minha terra têm que ser revisadas!
>>> Estamos em época de reforma <<<
A terra foi evacuada, o coração bate vazio,
O sangue que me pulsa nas veias não é meu,
Mas o coagulo no canto da boca me satisfez.
Espero poder abrir para imigração os portos em breve.
Pois é ruim ter tanta terra pra gritar sozinha,
E ouvir, como resposta, o eco a brincar comigo.