Apesar da pouca aceitação que eu me dou, e do alto nível de exigência ao qual me submeto, exponho aqui um pouco do que gosto de fazer.
Mas, por mais que eu tente explicar e por mais que eu realmente queira fazê-lo, eu sinto que não conseguiria fazê-los entender...
Sou nada.
Isso aqui é nada.
Apenas um rascunho ruim.
Minha prevenção do
hospício.
Medrosa por natureza, corajosa por audácia da sobrevivência.
Odeio frases que começam como, por exemplo, “sou do tipo de mulher que”l. Infelizmente não consegui pensar em nada melhor para o começo:
Sou do tipo de mulher que não se deu conta como mulher, e vê a si mesma como ser humano. E, em condição como ser humana, vejo em mim todos os defeitos e todas as qualidades que observo em outros. Vejo-me tão fraca e tão forte ao mesmo tempo. Porque tão paradoxais e complicados nos fizemos?
Claro que poderia ser mais simples, mas algo em mim diz que daríamos um jeito de transformar a simplicidade em algo complexo de qualquer forma. Combinar múltiplos pensamentos e criar sentido de coletividade numa escala tão grande de sociedade parece muito complexo e, de certa forma, impossível. Nas minhas crises de existência me pergunto qual é o meu papel aqui? Como se fosse grande coisa... Mas a sobrevivência e a vida nos transformam em seres tão valiosos para nós mesmos que quase não enxergamos mais o nosso próprio semelhante em espécie como semelhante, hoje somos todos concorrentes de nós mesmos, dentro de nós mesmos.
De perto todos nós somos estranhos. Pensando melhor, acho que todos nós precisaríamos aprender que todos nós somos MESMO estranhos. De perto todos nós somos completamente novos. Isso teria evitados muitos problemas.
Estou aqui para evitar problemas? Não parece que só se tem mudança quando se tem problemas? Será que conseguiríamos viver em paz eternamente? Não somos seres do conflito? Não é extremamente conflitante viver em sua solidão e em sociedade ao mesmo tempo? Não é uma sequência de explosões o funcionamento do nosso organismo?
Não me parece que algum dia nós encontraremos a paz, porque não procuramos pela paz. Procuramos por formas de viver que são mais agradáveis. A insatisfação e inquietação nos são inerentes e bem vindas, se bem destinadas e guiadas.
E essa casca é muito fraca e muito sensível para abrigar um ser tão devastador. Tão destruidor. Medroso por natureza, desde sempre. Mas tão guerrilheiro, tão estrategista, ao descobrir sua vantagem sobre os outros. Dominador, exterminador. Há muita lágrima fracassada em se conter dentro desses olhos escorregadios quando os momentos são de tensão e franqueza.
Não me assusto tanto com as crises, me atormenta não encontrar solução, não ter o controle. Estão no controle por nós. E todos os meios de obter o controle da própria vida me parece sempre tão distante. Como sairemos da caverna quando o mundo todo parece ser essa caverna?
Não temos medo de enfrentar as dores da vida, o mundo. Nunca tivemos. Alguns anos de retrospectiva mostram isso com clareza, de uma forma bem ácida. Como temos estômagos fortes. Temos? Temos mesmo?!
Marionetes. Escreveram “incendeiem o palco!” e “parem o mundo que eu quero descer”. Porfim, não acho que temos estomago tão forte assim... Nossos objetivos errantes. Encontrem um motivo que não seja religioso para continuar, se no nosso caminho e no nosso passo até a nossa sobrevivência está em jogo. Felizes são aqueles que acreditam fielmente em divindades, que a fé não estremesse, que não criam fatos para justificar o inexplicável...
-//-//-//-//-//-
Quis escrever sobre mim, há muito não o faço. Sempre acabo falando genericamente sobre a sociedade...
Dizem que sou poeta sentimentalista, uma complicada esclarecida, esquisita enquadrada, monstro engaiolado, desenhista de araque, escritora do impalpável e tradutora do indizível. Antissocial que cumpre protocolos, de delicadeza sutilmente ácida.
De pensamentos infinitamente encadeados e “superpensados”. De personalidade desprendida da terra, e de olhar vago no horizonte. Da eterna meditação e reflexão. Dos comentários soltos. Da voz baixa e do pouco interesse em sociabilizar. Da risada fácil e solta, do olhar tímido e fugitivo; fixo e firme. Corajosa que se encontra no pavor.
Do contato físico inseguro. Conservadora do espaço e da privacidade com leis próprias que devem ser respeitadas. Lutadora pela integração dos espaços individuais e privados. Encorajadora do conhecimento de si mesmo e do outro; da verdade que iguala.
Conselheira de amigos, psicóloga e abrigo de alguns, parceira de aventuras de outros, sonhadora com projetistas, ouvinte dos mestres. Calma explosiva. Almejante fervente de mudança. Observadora e pesquisadora do mundo. Passível de erro e incoerência. Calculista e projetista da própria vida.
Não sou concretada. E não viro pedra ao raiar do sol. Sou caçadora da liberdade.
Alguns desses adjetivos eu mesma me atribuí, pois se me olho no espelho, tenho orgulho de ver além do que a imagem reflete, sim, eu tenho. Não por completa satisfação, mas pelo produto da minha luta até agora, e do sucesso pelo o que em mim foi implantado e cultivado.
Eu passo por cima de mim para fazer um eu melhor, tudo aquilo que me obstino, faço, cumpro, se for por um interesse meu. Não sou hipócrita de falar que faço por alguém, se fosse, não o faria, eu sei. Temo o primeiro impacto, tenho muito medo do primeiro tombo, do primeiro corte e da primeira dor, o fim hoje parece ser apenas o fim. Não se sai de uma batalha sem cicatrizes, nada na sua vida passa sem lhe ensinar algo. A força crescente que encontro em mim me surpreende. Não é que não quero muito, avanço aos poucos. Aprendo dia a dia a controlar a ansiedade. Falho, mas levanto e recomeço.
Sou Sabrina, e, de repente em você, Sabrina. Nunca entendi porque Sabrina, não fui eu que escolhi, mas aceitei tão facilmente como meu que me parece a forma mais fácil de me definir. Algo mais ou menos assim... Você sabe dizer quando foi que eu entrei na sua vida?
Vejo-me sutil, maleável. Vejo-me adaptável. Mas também inflexível, de presença forte quando segura. Vejo-me como o mesmo monstro que vejo nas ruas. Como um bicho que quer sobreviver, como qualquer outro. E enxergo como arma de sobrevivência a verdade e o prazer. Não consigo definir quando são qualidades e quando são defeitos quando se trata das minhas características.
Penso demais porque o mundo e as condições que me deram para viver são complexos demais. E acho prazeroso descobrir ou enxergar e desvendar os mistérios.