Poema - Ex Amor
Poema - Ex Amor
Acordo como quem não acorda,
um corpo jogado na cama fria,
um resto de alma preso no ontem.
O espelho no canto me evita,
como se meu reflexo fosse um erro.
Há poeira sobre as horas mortas,
um silêncio que rasga a garganta.
Tua ausência é uma febre mansa
que queima devagar, sem pressa de partir.
As paredes sussurram teu nome —
frases que nunca dissemos,
mentiras que acreditamos por amor
ou por medo de não sermos nada.
Cada passo é uma queda discreta,
um tropeço em lembranças que não morrem.
A rua está viva lá fora,
mas aqui dentro o tempo apodrece.
A segunda-feira não começa,
apenas se arrasta, como um luto sem data.
Se ao menos houvesse um bar vazio,
um copo que me dissesse qualquer verdade,
ou um cigarro que queimasse mais rápido
do que a dor de existir.
Te procuro em cada esquina do passado,
mas tudo o que encontro é o cheiro do teu adeus.
E ainda assim, guardo a chave
da porta que você nunca mais vai abrir.
Se eu te visse agora, talvez chorasse,
não por você, mas por mim.
Porque a segunda-feira é a única certeza,
e nela não há redenção,
apenas o peso de carregar
um coração que já desistiu de bater.
- Gerson De Rodrigues, In " Poesias e o culto ao Diabo" livro em produção.
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