Tango

Acordei com as cores meio bagunçadas.

Sonhei contigo e por algum motivo senti seus tons novamente.

Foi estranho sentir como se você estivesse perto sem ter sua presença.

Refleti: “Era assim que eu me sentia naquela época?”

As cores tinham um cheirinho de terra molhada após a chuva.

O mesmo que senti enquanto pulava nas poças.

Ao mesmo tempo tinham um gosto doce como um picolé de limão.

A qualquer momento, eu poderia receber uma mensagem com um emoji ou uma música.

Enquanto acordado, achei que sonhava.

Talvez sonhasse.

Já que os sonhos carregam um pouco dos nossos desejos.

Da mesma forma que carrega um pouco de nossas loucuras...

e até nossos mais profundos medos.

O pôr do sol se prolongou por mais tempo.

Até o Astro Rei parecia apreciar aquele emaranhado de tons e sensações.

Era tudo lembrança.

Mas que lembranças eram?

Parecia ter viajado no tempo e espaço.

Minha alma transitava entre as duas realidades em uma dança enérgica.

Eu dançava tango com o tempo.

Seduzia-o, encantava-o, cativava-o.

Tudo para que durasse um pouco mais.

Tudo para que aquilo me trouxesse o que há tanto tempo não senti.

Amor?

Excitação?

Desejo?

Não.

Vida.

Aquele era o portal para a Terra Encantada.

Perfeição seria demais para julgar o ocorrido...

Ainda assim não consigo descrever de outra forma.

Adormeci envolvido pela aura.

Despertei.

O despertar, entretanto, foi como morrer para aquela realidade...

(Ou devo dizer ilusão?)