SAUDADES PLANTADAS NUM PÉ DE POESIA
Sabe aquelas plantas que você regava logo cedo? Elas também sentem a sua falta. Eu pego o regador e faço do mesmo jeito que você fazia, mas elas não aceitam esse cuidar pois por mais que eu tente fazer bem feito procurando ser perfeito, jamais atingirei o teu trato para com elas.
O Bob Marley continua cabeludo, os mamoeiros não estão amadurecendo suas frutas, e acredito que seja também pelo sentimento da tua falta.
Aquela panela deixada em baixo da pia com a minha promessa de que iria lavar, ainda continua no mesmo lugar, pois de fato não tenho ânimo para tira-la de lá. Quem sabe, tanto ela quanto eu, estejamos aguardando você voltar para recoloca-la no seu lugar de costume(mas não sem antes me dar uma regulada).
Nossos gatos miam tristes e já não ronronam como antes o faziam. Nossa bela cachorra fica uivando como se procurasse ouvir a sua voz.
Acredito que eles estão acumulando uma saudade que só os bichos sabem o gosto exato do sentir.
Sabe aqueles dois lindos beija flores que vinham acariciar os brotos do mamoeiro? Tanto o verde quanto o preto, não vieram mais.
Os saguins que vinham ao ouvir o teu chamado saltitando por cima do muro para ganhar um pedaço de banana, eles recolheram-se ou estão habitando noutros lugares pois sentem que você não está aqui.
A tua falta nos faz falta. Teu riso não se desenha pelos amplos espaços deixados pelos vãos da morada, que agora cresceram sem você aqui.
A tua voz se faz inaudível e as conhecidas sonoridades dos teus passos emudeceram, pois eles também fazem muita falta. mas sabe de uma coisa? O que me conforta é ver no canto da casa, uma sandália dispensada preguiçosamente que ali você deixou por esquecimento, ou para (despercebidamente) causar esse sentimento de lembrança e saudade, pois é difícil eu passar por aquele local, sem estender meu olhar em direção dela e não desejar que estivessem ornando os teus pés.
Engraçado, tudo te lembra, tudo se faz presente no estender dessa tua ausência, que a cada dia ganha um dia a mais de aniversário.
Nossa cama está mais larga, pois nela, sobra um imenso espaço, no que perceptivelmente, falta o aperto do teu abraço dividindo aquele nosso habitat que agora é somente meu, repartido com um dos nossos (Mais teus) teimosos gatos, que mendigando uma proteção, se aproxima querendo um pedaço do colchão para repousar. Silenciosamente, sem emitir um simples miado se quer, ele vem sorrateiramente e se apossa daquele pedacinho onde cabe apenas ele e o meu olhar aprovando aquela invasão, por entender que era assim que ele fazia ao notar que você estava deitada, e lhe fazia um carinho que eu até podia ouvir o ronronar de satisfação de um desses felinos.
Tudo aqui em volta de mim, sente que a sua presença se faz ausente, mas o coração, na certeza do teu regresso entende que era necessário esse ir, para quando você vir, tudo então tomar seu curso normal do existir nessa casa que não está sendo totalmente um lar, por faltar quem mais a embeleza com aquele sorriso que somente você sabe dar.
Por hora, acredito que era isso que eu queria te dizer. Então, até daqui há pouco, e espero que seja num tempo bem reduzido.
Com saudades...
Todos nós.