(C)idade perdida
Esquecida a fagueira mocidade
a fogueira do tempo recorda
que viver é queimar-se em saudade
em ruínas da cidade que acorda
O sono distante se desmancha
O sonho alegre se avizinha
em sinos que vibram, a rua dança
o antigo som, a triste valsinha
Acalento sério que exige a distração
por vazias paisagens de épocas ligeiras
sob a nostalgia lírica que pintou no coração
com o pincel das lembranças faceiras
Longínquas árvores, de verde segredo
que nas lindas tardes frondavam os sons
da infância singela, sem dor e sem medo
de voar e só voltar na aurora de seus dons
O céu, teto daquele mundo
refletia a inocência límpida
em seu azul, de mistério profundo
testemunha de toda pureza e volúpia
Catedrais que sentem a dura falta
daqueles que há idos anos, amor juraram
em catequética eternidade exata
somente no jovem devotamento que brilhara
Brancas e largas casas, coração estreito
fugiu ao sentir o sol pelos becos e ensejos
já não há estrelas nem sonhos no peito
só a saudade que povoa os meus vilarejos