Cartão Postal

Havia dois meses que você escrevera o cartão

E meu coração palpitava assim que eu pensava nisso

Eram torturante os dias que se passavam

Vinte quatro horas em um milésimo de segundos

O destino é como uma árvore

Ela é bela ao olhos nus

Porém,comida por dentre os troncos

Eu tinha acabado de acordar quando recebi o cartão

Tomando o meu café e conversando com a Dona

Minha mãe veio até mim

E me entregava o cartão postal

As letras riscadas pela caneta

O cheiro da tinta

Selo que vinha do Kremlin

Trazia consigo o ar seco do inverno

O máximo que conseguia de estar perto dela

Era tocar nas letras rabiscadas por uma caneta preta simples

Apalpar o mesmo papel que por ela tinha sido

E ler com calma o que havia sido escrito com muito amor

A caligrafia assemelhava-se aos escritos de Pero Vaz

Elegante, suave e pequena eram as letras escritas em idioma estrangeiro

Permiti-me ler trocentas vezes o mesmo texto

Meu pequeno pãozinho havia escrito sobre um poema russo

Sobre a grande Vela Escarlate

Li por muitos dias aquele cartão

Mal esperava por escrever o meu para ela

Não amava há muito tempo

O amor não escolhe quem ama

Quem ama não escolhe a quem amar

Ser amado não é uma escolha

O tempo é o inimigo do amor

Assim como o amor é inimigo do tempo

Assim como o amor é inimigo de si

A distância destruiu um amor puro

Que eu já não acreditava amar nunca mais

Porém

Nunca me sentira tão vivo

Adeus,meu pequeno tesouro

Vinda do receptáculo de estrelas caídas

Foi bom enquanto durou

E foi duradouro enquanto acreditávamos no nosso conto

Ainda tenho esperanças de te ver em meio a Praça Vermelha

Ainda tenho saudades de ti

Mas é hora de esquecê-la

É hora de virar essa página velha e úmida

Partiste sem mais e nem menos

Eras um pássaro que sonhava em voar

E eu era uma gaiola que lhe iria aprisionar

Pássaros são feitos para voar ou para serem engaiolados?

Vi que você continua sua aventura entre àquele Muro que dividia pessoas

Lembro-me que eu tinha mudado tua aura

Contavas-me sobre como teus amigos falavam de ti

Sorridente em um lugar onde ninguém sorri

Feliz em um lugar onde pessoas são tristes

Deixo aqui minhas últimas palavras a ti

Minhas doces memórias

Sem a amargura da raiva

E o salgado do rancor

Queria dizer-lhe um oi

Porém apenas posso te falar um adeus

Adeus, meu pequeno tesouro

Esse é meu cartão para ti

Saiba que jamais queimarei teu cartão

Guardarei para sempre

Até que um dia eu possa entrega-lo a ti

Com meus maiores desejos

Adeus.

Pedro La Vieira
Enviado por Pedro La Vieira em 05/06/2019
Reeditado em 19/06/2019
Código do texto: T6665994
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