Saudade 3°
As vezes me entrego aos pensamentos que norteiam minha existência, revejo cada momento que permearam as fases da minha vida. Houve momentos tão bons! Entre eles, as reuniões de família, o café das três horas da tarde, o ir e vir para a casa do engenho, as viagens pelo caminho. O meu transitar por lá, o meu garimpar quinquilharias por ali e por todos os arredores, como era lindo o viver ali, lembro as águas, onde eu mergulhava, águas limpinhas, as pedrinhas ao fundo, aquelas noites de luar, as brincadeiras de roda, as cantigas, lembro os dias nublados, aquele vento que soprava alegria, folhas e papéis pelas ruas, me fazendo correr, descalça de braços abertos fazendo a festa e ao cair a chuva eu continuava brincando e chutando as poças d'água. Como era bom. Ah e o meu primeiro beijo e abraço escondido... E aquele amor à primeira vista, ah! Como foi lindo, aquele homem tão belo, misterioso o poeta, que ja existia em meus sonhos de adolescente. Aquela barba bem feita aquele olhar de silêncio, sábio e profundo. Um olhar de muitas experiências vividas. Foi uma sensação única. E o tempo passou tão depressa e com ele, se foi meu amor. Lembro minha primeira gravidez, que sensação maravilhosa, foi como um sonho colocar minha mão sobre o meu ventre e sentir aquele montezinho ali, embaixo da minha mão, aguardando o milagre do seu primeiro movimento e foi uma explosão de alegria quando isso aconteceu... E virou um hábito aquele gesto de amor. E Tudo foi passando, tão rápido e aquele serzinho é hoje, quem me conforta. A gente nem percebe o que entra e o que sai de de cena no palco dessa vida. E ela é feita de espetáculos, as vezes tristes e as vezes felizes, deveríamos estar mais atentos, tanto em assisti-los, quantos em atuarmos. Reflito muito, sobre esse meu jeito enclausurado vendo a vida passar pela janela, ou melhor, pelos meios de comunicação, não concordo, mas assim vivo. As vezes dá uma saudade daquilo que mais me marcou. Se eu pudesse voltar no tempo, passaria naquelas estações da minha vida, em que fui obrigada a abandonar o barco. Como eu queria agora está com aquele que me teve em seus braços, me fez perder o chão, o juízo e a razão. Mas o destino nos separou e eu nem se quer tive coragem de entregar-me a ele e assim nem foi consumado o nosso amor. Essa vida é cheia de enígmas, as vezes indecifráveis. E por ela vou indo, perscrutando os segredos desse meu viver, que por uma razão ou outra, me proibe de amar e ser feliz. E assim, as cenas se passam, as luzes se apagam e as cortinas vão se fechando até que um dia tudo se encerra de uma vez é quando cerramos nossos olhos, para sempre, aqui nessa terra. Que eu desperte dessa minha ingenuidade e que ela não mais impeça o desenvolvimento da minha maturidade. E que eu possa chegar ainda aos braços daquele que me fez ir ao céu no primeiro instante em que lhe vi. Aquele que me arrebatou apenas com um olhar. O seu primeiro olhar, o seu sorriso e as suas palavras, prenderam-me a ele por toda a eternidade. Que eu ainda te encontre nessa, ou na outra vida, meu grande e eterno amor
Kainha Brito
Direitos Autorais Preservados