In Memoriam
“IN MEMORIAM”
Blém, blém, blém!!
O sino toca uma partitura
Mas não ouço ninguém
O silêncio assovia
Pela fresta da sepultura
Formando uma escultura
Esculpida na lápide
Pelo cinzel da saudade
No vazio que se anuncia
E como não vejo ninguém
Eu converso
Com o meu verso
Às duras penas,
Apenas.
Pois a pena
É que me faz
Por meio desta elegia
Ressuscitar a lembrança
Tardia
De um tempo de bonança
Que não volta mais
Todos se foram
Mas continuam ali
Eu, plenamente, os sinto
Uma voz “invisível”
Inaudível
Do além
Para além
Daquilo que eu pressinto
A lágrima dos olhos já secou
Pela pátina da moldura
Da janela
Que o tempo descerrou
E na aquarela
Desbotada
Ouço aquela
Badalada
Do sino sofredor
Mas no sorvedouro
Do coração
Existe um escondedouro
Onde a lágrima
Está presente
Caudalosa
Silenciosa
Uma comoção
Intermitente
Descansem paz
Em seus abrigos
Queridos pais,
Irmãos, mães,
Filhos, irmãs
Avós
Amigos!
Os nós
Desta liturgia
Atamos e desatamos
Todo dia
No redemoinho da vida
O vórtice
Verte-se
Veste-se
No ciclo que se inicia
Com o nascimento
E se finda
A todo momento
Com uma nova partida
Enquanto não chega nossa hora
Da dança sem horizonte
Com “aquela” senhora
Que vem na barca de Caronte
Vamos vivendo pela ausência
Sentida, a chorar
Mas como refrigério
Além dos muros do cemitério
De um dia os reencontrar.
Descansem em paz!
O tempo nos refaz
E nos serena
A dor antes imensa
Torna-se pequena
Comparada com
A alegria
De podermos revê-los um dia
Na etérea eternidade
Quando esta temporalidade
Acabar
Já me vou embora
Pelo adiantando da hora
Eu me despeço
Pois a dor se insurge
E o ponteiro urge
Portanto lhes peço:
Ajudem-me, nesta
Agonia
Bebendo comigo o cálice das lágrimas
Para que dentre as últimas lástimas
Eu termine esta lúgubre poesia.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
(Todos os direitos reservados. Lei 9.610/98)
02 de novembro de 2018