Pai

Quantas vezes foram ditas

Quantas hei de dizer,

Não me esqueço de meu pai

a quem não tornarei a ver.

De repente se foi, levando mala e cuia,

Não deu adeus aos seus, nem um abraço

Na patroa, se foi do nada, pra volta não deixou data, decisão ingrata, e difícil de engolir.

Mas uma coisa é certa,

errado seria omitir,

Fez muita coisa boa

e muitas eram por mim.

Me ensinou a tabuada,

contar moeda e piada,

Algumas não tinham graça

e ainda assim me faziam rir.

Me alertou sobre os perigos

que eu veria por aí, gente ruim e perigosa fazendo de tudo pra subir, seus conselhos eram valiosos, ainda os guardo para mim.

(Ah, saudade).

À noite, num caminho envolto de escuro,

Ouço um breve murmúrio,

Seria o homem? O dito cujo?

Ou a voz da saudade, que fala no pensamento?

Paro, penso e lembro com o coração

Nesta mesma ruazinha,

De pedrinhas cinza ‘escuro no chão

Ah, que saudade daquele tempo.

Saudade de todo mundo

Hoje por aqui ando pouco,

mas recordo nossas andanças,

sou um poço de lembrança.

Era pobre, e coitado as vezes não tinha comida e quando tinha era contado,

Meio a meio era dividido, um grão pra cada

Prato.

Hoje em dia não tem sufoco,

Fartura tem mais um pouco, não é muito, de fato, mas agora dá pra encher o prato.

Sinto falta da ruazinha,

onde cresci e fui feliz, meu velho

Que falta você faz.

Ah, se visse, o homem que me tornei.

Não tenho ouro nem prata,

porém nem cede nem fome,

trabalho diariamente,

mas graças a você me tornei

esse homem.

Diogo Mairinck
Enviado por Diogo Mairinck em 27/10/2017
Código do texto: T6154428
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