Saudades
Aquela música! Lembrarei para sempre dela. Porque a ouvi naquele minuto? Tocou na playlist, nada programado, melancólica. E, de repente, meu coração se fechou em trevas, saudades.
Pior, saudades dele, meu amor. Nunca sentia saudades de pessoas vivas, apenas dos mortos. Porque, então, sentia saudades dele (vivo)? Meu coração estremeceu com este pensamento. Peguei o telefone, liguei para ele. Minha agonia fazia parecer eternidade os segundos da espera pela chamada.
Ele atendeu. Uffa! Que alívio! Conversamos, nada importante. Uns cinco minutos. Coisa rápida: o suficiente para eu me acalmar. Não disse nada da minha angústia momentânea. Apenas matei a surpreendente saudade. Ele pareceu feliz com minha espontânea demonstração de sentimentos. Isso era raro da minha parte. Me despedi dizendo que o amava.
Desliguei o telefone e voltei a trabalhar. Meia hora depois, vi, numa página da internet, que as duas torres gêmeas haviam desabado. Assisti, atônita, as imagens daqueles prédios, do meu amor desabando, sucumbindo, morrendo. Sem nada mais a fazer, restou-me, então a saudade, a vontade de trazer de volta o tempo de quem se foi. Na memória, a imagem do dia em que nos apaixonamos: prometi nunca deixa-lo ir. Promessa quebrada. Nada mais a fazer se não chorar.
Marta Almeida: 10/04/2017