CANOEIRO DE SONHOS
A cada ramada que dei
Plantei neste imenso rio
Meus sonhos de criança
As margens do Cajaraí
Colhi os frutos do tempo
Maduros na solidão!
Na aldeia do Jurimáguas
O velho Pajé curou-me
Com o ritual da pajelança
Deixei para traz os medos
E os lenços de amargura
Derramados na escuridão
Nas espumas do rebojo
Murmurejei os segredos
Guardados na lembrança
A frente do vistoso barranco
Uma revoada de arirambas
Saldava o sol deste chão
Da torre da Igreja ouvia-se
Um imenso girassol de sinos
Cantando a velha esperança
A cidade que o rio tragou
Ainda vive dentro de mim
Vestida de imensidão
Ao surgir à luz primeira
Sobre a bruma que me vela
A ti me unirei em aliança
E sob teus capinzais floridos
Libertar-me-ei dos grilhões
De toda minha sofreguidão!