Quarto de Pensão

Da janela deste quarto de pensão

Vejo coisas, em São Paulo, terra de louco,

Vejo tudo, mas entendo só um pouco

Do que vejo, deste quarto de mansão.

Da janela gozo o prazer da delícia,

Que é não gostar de tudo o que vejo,

Como gosto da delícia do teu beijo

Quando a vejo me beijar com malícia.

Gozo a arte maldita da saudade

Quando lembro da minha cidade,

E em tão profunda melancolia

Gozo a saudade, o beijo que dizia:

És a musa de um sorriso mais belo,

És a deusa da arte, da perfeição o elo,

És a única mulher... a mais linda.

És tudo isso, e mesmo que ainda

Não fosses mais que suficiente,

Me deixarias ainda mais contente

Por seres tão linda, tão bela,

E eu diria que provei do beijo dela.

E neste beijo também sucumbirei,

Sucumbirei a uma força,

Esta força tremenda e imponente,

A este amor que me atormente

E me force a me enclausurar

E sofrer, sofrer sem murmurar.

Quero antes sofrer, e em dores,

Ter um amor em campos de flores,

E desta tamanha distância

Quero em toda circunstância

Te escrever uma carta

De saudade, de saudade farta,

De sentimentalismo imaturo

E de esperanças para o futuro.