l’amour n’a plus de gout / mônica na frança
leio tuas linhas tortas
numa calma segunda
não tenho sorrisos nos lábios
apenas crateras e depravação
sou quase vazio –
um copo abandonado no fundo da pia
penso em você
depois tento esquecer
você se perde no meio da torre
e eu morro pra ninguém ver
sua alegria européia me faz cócegas
e eu penso nessa vida que eu levo
enquanto em ti faz sol
aqui, eu nevo
pra ninguém ver
meus braços são remos cansados
habita em mim um victor hugo caduco
um molière sem inspiração
baudelaire careta faz graça
e eu, de pirraça, não sorrio
perco-me em contradições
mas ainda sou mais rio
ainda somos dois corações
aqui, eu colho outras flores do mal
aí, você passeia e, vez ou outra, semeia
eu ouso imaginar o que você pensa
mas recolho-me em mim mesmo
só pra variar
faz de conta que tá tudo bem
então, mon cherri, me faz rir
enquanto a noite vem de mansinho
ventando a alma vazia
e o copo na pia transborda de silêncios
e a gente não vê
estamos em outros continentes
e bem na frente o futuro começa
e eu não tenho pressa
de te escrever conflitos existenciais
eu não sou mais tão franco
luar sou, de vez em quando
só pra quem sabe uivar
será que você terá
coisas novas pra me contar?
vou parar pra escutar
afinal, não sei
que dirás-tu ce soir
então, te deixo um abraço
como prova do meu apreço
pra me tirar o cansaço
e inventar um novo começo
então, te ofereço restos de amor
e um beijo nunca antes dado
porque “perdeu a primavera o cheiro da flor”
e o desejo já foi abandonado