A PORTEIRA


Hoje eu decidi avançar em minhas descobertas,
Montei em meu cavalo-de-pau, cavalguei rente.
Ia em busca de uma visão além das portas,
Queria explorar mais que o empoeirado terreiro,
Como quem explora o mar, navega sem rumo, em frente.

Avistei a velha porteira, meu divisor de caminhos,
Açoitei com meu chicote o cavalo-de-pau ligeiro,
Sob olhares cuidadosos, mas sentia-me sozinho,
Como o afoitado e jovem pássaro,
Que planeja em seu primeiro voo deixar o ninho.

Deixei para trás os limites do terreiro,
Apenas olhares e um adeus como sinal.
Aquela porteira limitava minhas vontades,
Mas não deteria meus sonhos de vaqueiro,
Que todo dia imaginava um novo final.

Apeei meu cavalo-de-pau, aboiei um bezerro,
Que parecia perdido na caatinga, errante,
Determinado subi na porteira com autoridade,
Era um aventureiro vaqueiro,
Segurando na mão pequeno berrante,
Sem temer os perigos do mundo, a verdade.

De cima da porteira vi que não havia limite nesse mundo,
Naquela estrada velha que os vagantes iam e vinham,
Suas duas direções pareciam sem fim,
Como um buraco grande, sem fundo.

A grande braúna vagueava suas sombras,
Delimitando a escuridão em volta de si,
Da porteira imaginava e não via a hora,
De um dia abri-la, dar um beijo e partir.