Saudade
De um banco solitário a um cais abandonado...
Não existe diferença se a saudade ainda bate
Neste peito já parado por cansado de sofrer
De tanto desencontro pela névoa recoberta
Se o frio do açoite calejado nestes versos
Não mais sabem descrever a desventura do incerto.
Se os pássaros da praça já não cantam como antes,
Se a lembrança se dissipa numa tarde em calmaria
Onde nem o respirar é ouvido no silêncio
Da triste despedida, do vazio, solidão.
Não te apartes de mim, noite, pois tu és a companheira
Dos meus ais, e das dores de uma triste desventura
mas também o meu deleite se recebo alegria
que se finda junto ao dia nesta finda aventura
transformada em agonia já infinda e melancólica
Se não vai porém vê estas folhas a caírem
No solo frio, e trépido, e úmido, e sôfrego...
E, no chão, vão morrendo um a um, bem aos poucos
Estes tristes pensamentos e lembranças que caíram
Das árvores do Outono, da vida, do destino,
Se te esperava após o sol que não veio este ano
Mas deixou consigo frio, desamor, certo rancor
Pereceu para nascer em um louco novo dia
Neste banco solitário que agoniza ao relento,
Neste porto abandonado, neste cais da minha vida.