NO LIMITE DOS TEMPOS
Volto à infância,
paraplégico de tanta inércia.
Tento rever, nas entrelinhas
do tempo, caminhos primeiros.
Busco, impaciente, o sorriso
amarelo de um avô que
não consegui amar porque morreu.
Antes, muito antes de eu crescer.
Lembro que era calvo e alvo.
Operário de fornos.
Rude, bigodudo e antigo.
Como retratos amarelados.
E o Bijú, meio collie, meio tomba,
era seu cão de guarda e graça.
Dona Angelina sim, minha vó.
Meu abrigo de chineladas maternais.
De amplo colo e parca instrução,
cozinhava polenta e almeirão e torresmo.
No limite dos tempos,
eu ficava a cutucar o tacho
em busca de casquinhas.
Até hoje faço isso...
Mas não tiro mais nenhuma.
Nem tacho, eu acho que tem
por aqui.