Distância

O que é essa distância?

Um desejo de ter o longe,

Abrigar o afastado que ama,

Vontade de nesse sonho ser insone.

Uma saudade sempre próxima,

Acompanhando com espaço,

Faz da vida uma batalha heróica,

Um te quero, mas não te acho.

O outro presente ausente,

Oprimindo com a lembrança,

Faz da memória um agente,

Que aflige com sua poderosa lança.

O caminho traçado no vento,

Seguindo um idealismo aéreo,

Fazendo-se um condenado pelo tempo,

Desgraçado que faz das horas seu cemitério.

A melodia que lhe toca os ouvidos,

É um lamento fúnebre de solidão,

Carregando migalhas de objetos esquecidos,

Tendo como fardos esperança e ilusão.

Canta lamúrias em tom de valsa,

Mas falta-lhe o par nessa dança,

Escala montanhas majestosamente falsas,

Para tê-las como efêmeras heranças.

Chora com peito arfante,

Sempre lhe falta algo,

Até o respirar é expirante,

Um artista sem palco.

Sorrindo feito uma hiena,

Pois seu riso é de morte,

O jardim tem só uma flor que envenena,

Voa faltando asas e cai sem ter quem o note.

Onde está você?

Não vejo por mais que procure.

Devo a aflição obedecer,

Ou falecerei antes que mude?

Um dia antes dessa presença,

Era algo de um cotidiano resignado,

Agora me fez escravo de ausência,

Tudo só faz sentido estando ao seu lado.