A RUA PERDIDA DA MINHA INFÂNCIA

A rua da minha infância era de barro,

depois calçaram-na com paralelepípedos;

o futuro, porém, poupou-me de ver a tristeza do asfalto.

Nela joguei bola,

sentei-me no meio-fio,

para conversar com os amigos

e ver as moças,

com suas mini-saias,

descerem dos ônibus.

Eram tempos remotos,

de andar sem lenço

e sem documento,

de ver a banda passar,

de zumbidos de besouros ingleses,

de estrondos de pedras rolantes

e de bombas de napalm,

de descobrir a praia

debaixo das pedras,

desfilando pela avenida,

de braços dados,

aos milhares,

exigindo o impossível:

o amor em vez da guerra.

Por ela assoviei nas madrugadas,

meio de porre,

voltando dos bailes,

nos quais, por não saber dançar,

sempre terminava sozinho.

A rua perdida da minha infância,

apesar de nela não mais morar,

continua sendo o endereço

de grande parte das minhas lembranças.

- por JL Santos, em 24/25/jun/2008 -

jlsantos
Enviado por jlsantos em 25/06/2008
Reeditado em 12/12/2008
Código do texto: T1050328