SONHANDO
 
 
                    Sim. Durante horas intermináveis permaneci calado, apenas e simplesmente observando, admirado com tanta beleza.
                    Era como se a imagem da mais pura deusa estivesse se desligando e saindo de dentro de uma tela, onde o artista não economizou talento e detalhes mil.
                    O seu gingado e caminhar compassado, mas distante de tudo ao seu redor, absolutamente dispersa, me enchia os olhos que lagrimejavam de contentamento.
                    Assim, quase que embaçados, a seguiam em todos os movimentos de certa forma até cadenciados, como se estivesse indo e vindo, mas sem nunca chegar tão perto o quanto eu queria.
                    Esse ritual era intermitente. Até que aquela beldade aproximou-se de uma só vez e colou seu rosto ao meu, beijando-me na boca longamente.
                    Em vão, sem forças e muito menos condições de apertar aquele corpo com os meus próprios braços, o vi distanciar-se nas nuvens, quando então me dei conta de que sonhava.
                    Com todo o corpo ensopado de suor eu olhava atônito para os móveis do quarto na penumbra com as roupas de cama arrastando no piso de cerâmica.
                    Murmurei um tanto triste:                    
                    Quem sabe se eu dormir novamente consiga retomar o mesmo sonho no ponto em que foi bruscamente interrompido.
                     Vamos dormir querida?