AINDA FALANDO DO PASSADO

Em toda a minha vida, vivi rodeado

de gente falsa, incluindo supostas

namoradas, apenas de olho na droga,

que eu possuía e tinham tal como algo

adquirido, julgando que trocar sexo por

droga, a isso tudo se resumisse e eu

estivesse disposto a tal facto.

Mal sabiam elas, de meu forte carácter,

e, muitas das vezes, precisei de ser

rígido na palavra, para afastar esta gente,

de minha vida, que, diga-se, de nada valia,

mas respeito à minha pessoa exigia, pois

que não me vendia, como a um qualquer

prostituto, só porque tinha poder nas mãos.

Nunca aceitei, como moeda de troca, nada

que tivesse sido roubado, embora até

entendesse as suas e a minha miséria. Mas

para mim era ponto assente: dinheiro numa

das mãos, droga na outra. Muito sorriso

forçado, máscaras e outras ignominias, eram

o meu pão de cada dia, ansiando minha dose.

Mas as contas, que tinha de prestar aos

superiores, foram deixando seus resquícios,

de anos e anos, mantendo-me controlado,

mas só por fora, que dentro doía e consumia,

meu corpo enfraquecido, onde sol e noite,

já não distinguia, no fluxo e refluxo de gente,

apenas com o mesmo intuito e fútil conversa.

Então resolvi fugir, levando-lhes a droga toda,

já que o trabalho era todo meu. E, quando a

súplica se instalou, senti-me ofendido e

manietado: caminhei em direcção ao Norte.

Longe estava eu de imaginar, que, tão longe,

me viessem a descobrir. Tudo perdoaram, assim

voltasse a trabalhar pra eles: não mais! Disse…

Agora estava por minha conta, acabara-se as

facilidades. E o que antes rejeitava, pois foi

caminho, por onde tive de enveredar. O mais

é triste e infame, para que eu aqui relate, mas

de nada esqueço e com isso vivo até hoje.

Nunca bati em ninguém, seria o mesmo que

fazê-lo a minha mãe, mas muito mal cometi.

Jorge Humberto

21/09/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 22/09/2008
Código do texto: T1191021
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.