VAGA LUZ NOCTURNA

A noite já vai longa em sua penumbra

enganadora. E há um feitiço que nos

prende a ela, como as sombras, que se

colam às paredes, das coisas estáticas,

reclamando sua posse.

Prende-se a imaginação e vagueia, como

que desnorteada, por vãos de escadas e

esquinas assimétricas, lembrando como

todo o sonho pode ser distorcido, na

escuridão absoluta, reino de outros seres.

Apesar disso os ruídos tornam-se mais

nítidos, e, procuramos, com os olhos vagos,

de onde eles virão, para que enfim possamos

decifra-los, deixando-nos menos alheios,

à nossa tremenda insuficiência humana.

A espaços, quando a luz da lua, incide na rua,

silhuetas correm ante nós, como num filme

a preto e branco, e, aí, reclamamos o espaço,

agora visível. E embora tudo seja fugaz, por

momentos, sentimo-nos parte da paisagem.

Isto até a lua voltar a esconder-se e acordarmos

para a realidade cega, através do pio de uma

coruja, que só a sabemos ali por imaginar. Não

podendo ir mais além, fechamos janelas e

estores e regressamos ao conhecido, que, o

quarto iluminado, nos reserva.

Jorge Humberto

14/09/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 15/09/2008
Código do texto: T1179154
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