Monólito

Sou um artesão de mim

me modelo

conforme a lama

do tempo

Sou carpinteiro

que não corta a madeira

Sou escultor

que imagina as nuvens

como assento

para o brilho das estrelas

para o repouso das aves

almofada dos anjos

que (alguns) riem de nós

Sou artesão e louco

firo a ferro fundido

a minha alma inerte

depois a curo

com o sorriso inventado

Sou um inventor

que pega o passado

e o transforma em baú de papel

Eu me reciclo...

O ontem onde era tão feio

agora é moldura

para o meu quadro

mais bonito

Gosto do rústico...

Sou apaixonado

pelas palavras

que dizem coisas sem sentidos

Sou fã do emaranhado

de troços avulsos

que estão despejados

no dicionário

São termos explicativos

que nem sempre entendo...

é daí que eu construo mistérios

Sou artesão de mim

e hoje a talha escava

mais fundo

Me quero submarino

peixe com bioluminescência

Quero clarear

meu próprio escuro

e enxergar se ao redor

há mais algo de ruim

Sou carpinteiro,

não de galho retirado

do que inda está vivo,

mas sim de toda luz

que me alcança...

preciso dela

como a fome necessita do pão

Sou o pintor do que me fascina

e o escritor

de meus fantasmas

Esculpo meu pensamento

com imaginações

e marretadas...

é assim que me acredito poeta

19-03-2023

08h26min

"Eu procuro por mim, tal qual o artesão procura sua arte escondida nos excessos da matéria bruta de seu mármore."

- Fábio de Melo.

Pela passagem do dia do artesão e do carpinteiro.

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Murillo diMattos
Enviado por Murillo diMattos em 19/03/2023
Reeditado em 07/02/2024
Código do texto: T7743649
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