Vingança fria (paraMarielle)
O indicador é acionado e o gatilho, aciona o giro do tambor que dança apertando o mecanismo de morte e faz-se ouvir o estampido.
O chumbo, (teleguiado pela vingança fria), cospe para fora a cápsula deflagrada, e segue rumo ao corpo que sente o impacto, e rodopia interrompendo o riso, os afazeres, e numa fração milimétrica de tempo, sente os olhos pesarem fitando o negror da angustia, e as pernas cambaleantes e sem domínio, perdem o equilíbrio e os sentidos adormecem e sem nada entender, tomba ao chão, palco de ultimo pisar.
A ânsia da respiração dificultosa agoniza como se tentando gritar por vida que nâo mais a terá.
Na solidão de espaço tempo, ouve vozes mas o som é confuso e o espelho do sono se quebra, e os ouvidos agora moucos, nada mais ouvem a não ser o silêncio do seguir sem companhia da vida que a deixa nesse momento.
O projétil alojado no interior do corpo, rompe a carne, perfura artérias, atingindo órgãos jorrando lentamente dali, o sangue que banha a calçada que acomoda o corpo em despedida, com um tinto liquido que percorre a terra da morte, deixando uma vida que inquietar alguns por não saber prender a voz em busca da luta do seu povo, ou do seu irmão, que por.vezes não tem direito a voz.
Não Marielle, nao é só tua, a dor do partir sem regresso, pois a tua ida é um alerta para todos nós, que podemos ser os próximos passageiros sem direitos ao check-in, levando na bagagem os nossos sonhos interrompidos.
Porem, jamais calando a nossa voz, pois esta irá escrevendo o nossa labutar, reverberando aos morros, as favelas, guetos, ruas e avenidas do existir, esse teu brado de guerreira, que vomitava verbos assustando os inquietos.
Outros projéteis, sabemos que irão voar pelas noites em busca de outros corpos para emudecer. Mas os gritos de tantos (mesmo que tombem) se farão ouvir com o mesmo pulsar da tua voz.
Até um dia, onde por noites covardes como as de hoje, nao mais existirão.
"Se não foi pela cor, foi pela coragem"