Ao meu pai

Envolto na noturna quietude

apenas ouço um canto doce – o rio,

em cujas águas busco o desafio

do imenso mar - a sua plenitude..

Rumoreja tão perto, em meu ouvido,

reflexo do mistério desta gente

que passa pela vida – uma corrente

seguindo sempre, em busca de sentido.

E noite adentro eu quero ter bons olhos

para enxergar além do que enxergava

em um homem cansado, que eu pensava

ser forte contra a vida e seus abrolhos.

Um homem que só viveu diferente

a vida, que eu agora vivo assim;

e nem por isso se tornou pra mim

mais homem, menos homem, menos gente;

E mesmo que ele agora não compreenda

eu sinto falta dos dedos calosos

tocarem minha fronte e olhos chorosos;

sereno, mesmo que me repreenda.

É o homem que preciso ter comigo

quando sou como um rio que se vai;

Preciso que ele seja o meu amigo

E depois disso, sim, seja o meu pai.

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 22/10/2005
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