Mulher
Catou a dor e jogou no saco.
O batom marrom clareou os passos.
Minutos soltos tornou-se blue,
O Rosto cru cruzou as ruas, fechar espaços.
Em tom crepom seguiu sem laços.
Nas avenidas os carros param
Pra ver passar deusa felina,
Fera ferida de alma infinda.
De olhos negros, verdes, azuis.
De gestos trigueiros, bem resolvida,
Soltando a dor,
Querendo amar, querendo amor.
Amar a dor, ser todo ardor,
Ser um condor da própria vida.
Mulher sem pai, sem mãe, sem irmão,
Mulher nação, mulher perdão.
Mulher sem par, mulher sem paz,
Mullher razão, mulher parindo, mulher parida.
Mulher que acorda a madrugada,
Que sem nada faz o dia acontecer.
Catadora de lixo, vendedora de latinha,
Que vende cerveja, cachaça, taínha
Mar de amor, sol de paixão,
Mulher que acorda a nação.
Mulher das redes, mulher na rede.
Das praias, a vender camarão,
Ostra com cominho e limão.
Pescadora de marisco, sururu e caranguejo.
Mulher que não conhece uma letra,
Mas do filho faz doutor.
Mulher dos peitos secos,
Rachados, esticados,
Tetas iguais a um saco vazio,
Mas amamenta nação.
Mulher de leite, tetas grandes
Que amamenta o filho do Patrão.
Mulher de olhos roxos,
De mãos atadas, de pés descalços,
Sem sonhos, sem nada.
Mas que enfrentam o medo, o estupro,
Grita e denuncia a violência
De seus homens embriagados,
De seus homens enlouquecidos.
Mulher revolucionária,
Que saí de casa para estudar,
Depois dos quarenta abrem portas,
Transformam todo um sistema,
Pari o mundo e fica na luta indefesa,
Mulher que acorrentam seu filho
Para libertá-lo das drogas.
Mulher que abraçam diferenças.
Seu nome é mulher e mais nada.