A SAGA DO ARIGÓ
Para João Nogueira da Mata
Com o chilrear dos passarinhos
Nos arvoredos do imenso rincão
Inicia o “brabo” a faina sozinho,
Ao se lançar em plena escuridão.
Na lida solitária da madrugada fria
Guiado sob a luz da poronga e fé,
Chega o arigó a estrada da arrelia,
sob a proteção divina de São José!
Após a sutil sangria das árvores
Recolhe o látex para defumação,
Ouro negro depois de fabricado
Não podia negar ao severo patrão.
Na tarde que prenuncia a noite,
sob o canto tristonho da sururina,
ao ver que a coleta não foi boa,
reclama da sorte. Ou será Sina?
Fugindo da tristeza e do açoite
Só resta em outro dia de rotina
buscar por detrás da vil cortina
o bendito saldo que nunca vem!
O poema A SAGA DO ARIGÓ - estilizado pela forma rebuscada das palavras versadas - trás em seu bojo os aspectos históricos do seringueiro na Amazônia. O enredo e a forma elitista da escrita se revertem em “homenagem singular” ao poeta amazonense, João Nogueira da Mata, cuja retórica e intelectualidade luziram minhas primeiras inquietações literárias.