Desigual

Por ser demais transparente,

Acabou visto turvo

Pela massa disforme;

Transformou-se na piada,

Na desgraça,

Na coisa a ser evitada,

Tamanha foi sua força autêntica.

Por ser demais seguro

Quanto às suas limitações,

Acabou rotulado excêntrico,

Inválido, desigual;

Tudo porque ousou

Estar o mais próximo possível

De si mesmo

E nunca cogitou,

Nem mesmo em sonhos febris,

A possibilidade de ser

Massa de manobra dançante.

Demasiado humano,

Demasiado humano,

Mas sabendo não ser único,

E suportando, com triste desagrado,

Os convictos;

Dando graças,

Não ao lendário, ao intocável, ao sem rosto,

Mas à humanidade

Por ainda continuar parindo

Os que fizeram, fazem e farão

A diferença.

04/02/2012

Dedicado ao genial Edmundo Mendes Costa, vulgo Bicho Bravo, um artista plástico e performático dotado de uma sensibilidade ímpar, que por jamais submeter-se às normas hipócritas da ganância e da falsidade, acabou sendo, violentamente, empurrado ao isolamento de um sanatório, onde permanecem tentando esconder, com todas as forças, o poder de sua lucidez.

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 16/02/2012
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