Novembro

O silêncio dos cemitérios

Dita-nos a paz em voz alta.

Aproximo-me do teu túmulo,

Relembro tua voz.

Diversas vezes tua carne ambulante

Trouxe-me pela mão até aqui

Para florir e clarear, simbolicamente,

Este lugar.

Eu sei que o mistério

Caminha pelas sombras da neblina

E esta é a época em que o vento

Tem pressa.

Certas saudades são tão desesperadoras

Que ou consomem ou não somem.

Segunda-feira quente,

Prenunciando moscas;

Empunhei a faca

Para vingar-me do acaso

Ou do destino;

A memória em convulsões desconexas.

Sinceramente, desejaria

Te trazer de volta

(Pelo menos por uma conversa curta).

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A SETA segue SEMPRE ....

O cheiro nauseabundo daquela presença que eu dizia não ser tua.

A verdade sem palavras que eu me negava a admitir.

Saber que jamais te veria de novo. (Já começava a esquecer tua voz.).

A dor que de tão profunda continua e continua.

Tanta coisa que não foi,

Ficou cravada na culpa.

Esta dor tão cristã

Que dilacera mais que nunca.

Hoje, sou a fotografia do teu corpo,

Mas com minhas próprias paixões e calos;

A pesca dos sábados e os programas futebolísticos no rádio

Foram extintos para sempre.

Mas uma coisa é interessante e crava uma estaca

Prazerosa em meu coração inquieto;

Enquanto mais o tempo me afasta da nossa convivência,

Eu, um cético e agnóstico plantado sobre a Terra,

Sinto cada vez mais tua presença,

E ela é tão macia ...

05/11/1999

Nota do autor: Em homenagem ao meu pai, Eduardo Martins Castro, falecido aos 45 anos em 05 de novembro de 1995.

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 07/11/2011
Código do texto: T3321698