Volta Redonda

Cidade que contorna o rio,

Sua civilidade de rural a industrial,

Desenvolvendo-se num ciclo,

Que busca fazer-se de forma caricatural.

Aqui a metrópole se fez em prol da usina,

Ganhando aquele atmosfera de canteiro de obras,

Disposição de panóptico que subordina,

Revelando traços de uma militarizada história.

O Paraíba segue junto,

Seu leito algumas vezes passivo,

Noutras engolindo tudo,

Relação de dádiva e castigo.

Com sua população insuficente,

Pela necessidade extra de mão-de-obra,

Buscando toda espéce de gente,

Para compor o quadro de funcionários da nação.

Assim surgem as fornalhas,

Com braços de homens bravos,

Volcanos de classe assalariada,

Enfrentando a fúria do fogo e aço.

Além da quentura infernal,

Com ambientes de penúria,

Um purgatório sensacional,

As lágrimas transformadas em gusa.

Os trajes que igualam os operários,

Um exército de viés produtivo,

Militantes de um getulismo atávico,

Proletários de um ditadorismo.

Os torpedos vem a temperaturas altíssimas,

Só de passar perto o Inferno se aproxima,

O derretimento de ferro é visão magnífica,

Homens que se matam na árdua labuta que glorifica.

Esperança que carregam,

Não apenas de si e dos próximos,

Mas do patriotismo que professam,

Mesmo que seja um motivo utópico.

Na cearia sucumbem a uma cor escura,

São tomados pela poeira que os contamina,

Respiram fuligem, no intervalo a fuga,

Sabem que estão acolhidos pela Companhia.

Quanto mais próximo do trabalho,

Mas poeira respiram, para criar costume,

Os estrangeiros ocupam outro espaço,

No alto da cidade sentem-se imunes.

E que venha os militares, os devidamente institucionalizados,

Com suas fardas e tanques seus tiros que silenciam as greves,

As mortes covardes que viram monumentos bombardeados,

O sangue operário que o martelo e a foice foi entregue.

A siderurgia muda de mãos, estatal ou provida,

Ainda massacra seus filhos que alimentam as caldeiras,

Famílias que dependem da produção em sua vida,

Fábrica que se alimenta de homens, forja cadeias.

Sua hierarquia de postos dissolve a ideia de comando,

Segue-se ordens sem saber de quem elas partem,

Vai crescendo e toda a cidade circulando, ocupando,

O céu é cinza, abóbora, uma apocalíptica imagem.

Os gases deixam o olfato irritado,

Rotina de horários, com seus cansados turnos,

Matéria-prima de um modernismo atrasado,

Chaminés imensas que lançam fumaças em grande tufos.

O que fora antes da C.S.N. está esquecido,

Criou-se um mito de criação mecânico,

Agora concebemos nossos operários-filhos,

E o fogo fabril nosso prometéico valor messiânico.