Praia da Baleia
Ao tocar a maciez de tuas areias douradas,
E a leve espuma de ondas rendadas, encantadas,
Me encanto e canto uma cantiga,
Do fundo de minha alma sentida,
Saliente, persistente, insistente,
Incontinente, não contente em calar!
Uma cálida cantiga a exaltar tua beleza,
Que exubera ao adornar a natureza,
E me força a mais cantar, compondo,
Na mais exata composição, cantando,
A deslumbrada, desvairada, desabalada,
E entranhada vontade de cantar!
Baleia! És paraíso pleno e perdido,
Pedacinho do mundo, do mundo esquecido,
Entre bela e abençoada terra,
Sob um céu que todo azul encerra,
E um brilhante, transparente, reluzente,
Alucinante e refulgente mar!
Quisera eu que bela e dócil natureza,
Se fizesse menos frágil e indefesa,
Fosse ilesa ao ignóbil homem,
Ser abjeto que a tudo consome,
Com a cruel voracidade da avareza,
Que à beleza, teima em macular!
Quem sabe Deus, o Creador que tudo pode,
Se compadeça do temor que me comove,
E conserve as tuas ondas encantadas,
Com a leveza das espumas rendadas,
E a maciez de tuas areias douradas,
Que ainda eu posso tocar!
Em Ponta da Fruta (ES), outono de 2007.