DENTRO DO POEMA SUJO ou HOMENAGEM À FERREIRA GULLAR
Escrever não tem importância.
O que importa, de fato,
é o exercício, o ato
pelo qual desato minha ânsia
dos abismos em que se perdera
em noites sem esperança,
sem vinho, sem passo de dança:
Desespero que em mim se instalara.
Por favor! Não me busquem em entrelinhas.
Leiam-me sem duplo sentido.
Claro, que, com algum cuidado,
pois, do poema saltam farpas envenenadas,
que poderão atingir o leitor desavisado,
ferindo-o e levando-o ao lamentável estado
de, também, querer abrir suas veias,
mostrando-se despido, e sem defesas, ao mundo.
Ah, essa dor e esse prazer de escrever.
Ah, essa vontade de sangrar a própria jugular
e, depois, esvair-se na hemorragia, lentamente. . .
Tentando a vida compreender
à medida que se esvazia a Mente;
buscando alento onde não se supusera havido.
Ah, essa sina, eu a descobri, incauto, num repente,
ainda menino, dentro do Poema Sujo de Ferreira Gullar.
- por JL Semeador, em 07/09/2010 -