AO POETA QUE PARTIU
“A vida do poeta tem um ritmo diferente...
... Ele é cheio de amor para as coisas da vida
E é cheio de respeito para as coisas da morte.
O poeta não teme a morte.”
(Vinícius de Moraes)
Não...
Tu não gostarias
que as janelas se vestissem de luto
e não passasse por elas
a claridade da lua...
Não gostarias
que em cada rosto houvesse
a tristeza de um adeus
anuviando a beleza de um sorriso!
Não...
Tu não gostarias
que dos olhos rolasse a lágrima derradeira
como se tudo fosse consumado
como se todos esquecessem
das tuas lições de vida
ditas e reditas,
cantadas e recantadas...
Essas flores que cobrem um corpo imóvel,
cantam...
E se, acaso, uma gota bailar em cada pétala,
tu não gostarias
que a confundissem com lágrimas...
Tua presença física não teremos mais.
Mas teremos mais: a tua presença
nas canções, nas flores,
nas cores, no amor,
nas paixões!
A tua presença em cada olhar enamorado,
em cada beijo, em cada abraço,
em cada palavra de ternura,
em cada gesto de amizade,
em cada sentimento de saudade!
Não...
Tu não gostarias que chorassem
como se tudo houvesse terminado
porque afinal nada terminou
(e isso é motivo de alegria!)
pois uma nova fase da tua poesia
há de recomeçar
do outro lado!
(Poesia composta em 9 de julho de 1980, numa homenagem póstuma ao nosso poeta Vinicius de Moraes, no dia de sua partida deste mundo)