ESTE POEMA É MEU!
ESTE POEMA É MEU!
ESTE É O MEU POEMA,
ARRANCADO DAS ENTRANHAS DO MEU EU,
BUSCADO E REBUSCADO NO ÂMAGO
DA ESPERANÇA E DA RAIVA!
SÃO ESTAS AS PALAVRAS QUE TRILHO,
O CAMINHO RETO E SINUOSO,
A CURVA, A ESTRADA, A ESTRELA POLAR,
ORIENTE DE BARCO À DERIVA
NA DESCOBERTA DE OUTRA INDIA
OU DE CABOS DE CALMARIAS!
AQUI ESTÃO LÁGRIMAS E SORRISOS,
PEGADAS NA AREIA, POEIRA DO CAMINHO,
CHAMAS QUENTES DE DOR E PRAZER!
ESTE É O MEU POEMA,
AQUELE QUE DEDICO E MIM MESMO,
AQUI SENTADO NA CONTEMPLAÇÃO,
SEM OLHAR PARA TRAS, SEM OLHAR PARA TRÁS!
BATO A CONTRIÇÃO DOS DESEJOS,
OS QUE FUGIRAM, OS QUE SÃO PRESENTES,
OS VINDOUROS E OS DA ILUSÃO!
A CANETA TREME SOBRE A MESA
ONDE NASCE O VERSO, O SANGUE, O SUOR,
A MISTURA DE CORPO E ESPÍRITO,
NO CONFLITO QUE APAZIGUO NA JORNADA!
ESTE É O MEU POEMA,
SALTIMBANCO, PALHAÇO,
ACTOR E CANTO LIRICO,
O PALCO DE UMA VIDA DE TURBULÊNCIAS ,
SOSSEGADOS SONHOS E PENSAMENTO,
O SOL QUE CONQUISTA A MONTANHA
MAIS ALÉM, NO PASSO A PASSO
CALCADO E LEVANTADO DO PÓ E DA LAMA
QUE SOBE POR FIM SEM ORGULHO AO PEDESTAL,
NA SIMPLICIDADE DE SER, DE AMAR!
ESTE É O GRITO VIVO
QUE ME AFIRMA " ESTÁS PRESENTE"
DESDE OS CONFINS DO COSMOS
À PEQUENA MANSARDA QUE ME ABRIGA,
A MÃO ESTENDIDA SOBRE A FILHA, A NETA,
A MULHER E OS CAMARADAS,
A AJUDA DA INGREME SUBIDA,
O HOMEM QUE CORRE COM O TEMPO SEM PARAR,
NO MOMENTO EM QUE A VELA SE DERRETE NA MESA,
A CANDEIA CONSOME O AZEITE DA VIDA,
A AGUA CORRE SEM DESTINO PARA O MAR!
SÃO AS RIMAS, SÃO OS VERSOS
OS CEPTROS DE UM REI SEM CASTELOS NEM REINADO
MAS IMPERADOR DE MIM MESMO
QUE CONQUISTA NO GESTO A ALVORADA!
CADA PALAVRA É VONTADE E DETERMINAÇÃO,
DEDO APONTADO PARA O HORIZONTE,
DESPREZANDO A INDUMENTÁRIA DO IMPORTANTE
REDUZIDO A UM NADA QUE SE EVAPORA,
PORQUE ELE É APENAS PÓ E MAIS NADA!
SÃO OLHOS VIGILANTES DA AGUIA SERRANA
O VINHO DOURADO NO COPO LAMBUZADO
DO TRABALHADOR QUE ESVENTRA A TERRA
E SABOREIA NO CANSAÇO O MILAGRE DA NATUREZA
NUM MULTIPLICAR MILAGROSO DE PÃO E MIGALHAS
MAIS SABOROSAS PORQUE VINDAS DO LABOR!
ESTE É O MEU POEMA,
COR DE ROMÃ, AROMA DE PARAÍSO
FRUTO PROIBIDO MAS NÃO COLHIDO
SECULAR COMO A ÁRVORE AGARRADA À TERRA
TAL COMO O CASTANHEIRO NO ALTO DA MONTANHA,
SEM IDADE, TÃO JOVEM NOS SEUS ALVOS ANOS!
ESTE É O MEU POEMA,
VIVIDO, SENTIDO, CHORADO, RASGADO,
PETIZADO, CANTADO, ABRAÇADO
E NA ETERNIDADE LIBERTADO,
PORQUE EU SOU EU E EU SOU O POEMA!
JOSÉ DOMINGOS