O Gato na Janela
(A João Barros)
"Finalzinho de tarde
O sol a despedir-se do dia
Nas folhas um suave movimento do vento
a ausência daquilo que outrora existia
No frio mármore da janela
Espreguiça-se o gato preto
atento e estático ele observa
o passo trivial e ligeiro da vida
O gato preto na janela
de tão preguiçoso quase não mia
Vestido de atitude sagaz
demonstra toda sua calmaria
Cansado de andar de telhado em telhado
espreguiça-se o gato na janela
com escárnio ele observa
drama e comédia
ansiosos para encenar
no espetáculo da vida
O gato preto na janela
depois de um longo caminho
parece até meu velho avô
que vai vivendo a vida
em busca de uma desejada paz
a contemplar contornos sem nome
até que alguém por fim o chame:
-Já é noite senhor, fechai a janela!"